quinta-feira, 20 de julho de 2006

Andréa Tom

Andréa da Fonte Galvão, ou simplesmente Andréa Tom, 24, é estilista, mas não gosta desse rótulo, prefere ser chamada de “fazedoura de roupas”. Há três anos ela lançou seu nome no mercado e é uma das grandes apostas na moda recifense. Vivendo ainda na casa dos pais, ela tenta encontrar alternativas de ganhar dinheiro e assumir a sua independência. Vez por outra organiza bazares na casa da avó, onde expõe suas peças.
Está entrevista foi concebida via msn.

Andréa Tom: Não lembro há quanto tempo trabalho com moda, mas não faz muito tempo.

China: É fácil fazer moda em Recife?

A.T: Não. Fácil é, o que é difícil é vender. E eu não faço moda, eu faço roupa.

C: Você não se importa com as tendências?

A.T: Eu gosto de tendência. As tendências mostram novas possibilidades de se vestir.

C: Peraí! Roupa tem a ver com moda, moda tem a ver com tendência, e você diz que não faz moda?

A.T: Tudo bem pode ser...não. Deixa eu raciocinar um pouco.

C: tá.

A.T: Porque quando eu faço roupa, não tô pensando na moda, não diretamente, eu tô pensando no que eu gostaria de vestir mas não tem pra vender. Então eu tô pensando primeiro em mim e não na roupa.
Tô gostando não desta entrevista, tá muito contraditória. Hahahahahahahaaha.

C: Dá pra viver de moda, ou venda de roupas (como preferir) em Recife?

A.T: Se você mora na casa dos seus pais dá. Tô brincando. Tem muita gente que consegue viver de moda, mas eu não.

C: Eu acho que é complicado essa coisa de fazer roupas para as outras pessoas. São gostos muito diferentes.

A.T: Mas sempre tem alguém que vai gostar da mesma coisa que você gosta.

C: É. Eu tenho percebido que as meninas de Recife andam se vestindo igual. Será que todo mundo gosta da mesma coisa?

A.T: Acho que não. Vai ver as meninas do Recife (assim como eu) gostam de tendências, e aí agregam ao figurino algum elemento que é tendência. No final acaba todo mundo ficando muito parecido, mas cada uma tem sua identidade, e então no fim fica tudo parecido, não igual.

C: eu não entendo nada de moda. Detesto roupas, mas venho notando que a produção das estilistas de recife é muito parecida. Tô errado?

A.T: Tá errado. E você não odeia moda não. Você vive no estilinho.

C: eu uso o que me convém.

A.T: Cada estilista tem uma linha. Quem entende de roupa sabe diferenciar de longe uma roupa Andréa Tom de uma Semira Casé, por exemplo.
Você tem um grande estilo. Hahahahahahahaahaha.

C: Hahahhaahahhaaha.
Mas uma coisa lembra a outra. lógico que dá pra identificar, mas tem sempre algo que parece.

A.T: A gente vive na mesma cidade, freqüenta os mesmos lugares, convive muito, então no final claro que vai parecer, mas todas as meninas que eu conheço que fazem roupa tem um estilo próprio que diferencia bem o produto.

C: Tu não acha que tem muito estilista na cidade? Conheço uma menina que fazia administração e de uma hora pra outra ela virou estilista. Tá na moda ser estilista?

A.T: Tem muito arquiteto, muito dentista. Antes não tinha faculdade de moda, agora há 2. Antes as pessoas tinham vontade de trabalhar com moda mas não tinham acesso, agora o quadro é outro, por isso essa demanda.

C: Precisa de acesso pra trabalhar com moda? Acredito que é mais ou menos como na música: Faça você mesmo.

A.T: Reformule essa pergunta.

C: Bom, na música basta ter uma boa idéia, um instrumento, e tá feita a canção. Na moda também. Só precisa de uma boa idéia e alguém que costure bem. Porque só agora há esse interesse todo?

A.T: A valorização da moda no Brasil é muito recente. Há 10 anos atrás não tinha nem São Paulo fashion week, as pessoas não tinham tanto acesso à internet para pesquisar sobre o assunto, os meios de comunicação não davam tanto valor, então por isso esse boom. As pessoas estão podendo realmente ter acesso mais fácil à moda agora.

C: Eu acho o seguinte: Hoje em dia a maioria das meninas que não sabe o que quer da vida, vira estilista.

A.T: Pode ser, porque toda menina gosta de roupa. Você tá querendo dizer que eu não sei o que eu quero da minha vida?

C: Eu não disse isso.

A.T: Tudo bem.

C: Mas é aquele lance. Antes, todas as meninas que não sabiam o que queriam profissionalmente, faziam administração. Sempre foi assim. Agora elas viraram estilistas.
Você fez faculdade de moda?

A.T: Não, fiz um curso técnico no senac e saí me jogando por aí, estagiando em vários lugares.

C: Mas tu fez faculdade alguma vez na vida?

A.T: Não, e nem pretendo. Sempre quis trabalhar com arte e sempre busquei isso. Acho que existem outras maneiras de me informar que não precisam de uma faculdade.

C: Então a faculdade de moda não é importante?

A.T: Quais serão os grandes professores que me irão me ensinar numa faculdade de moda em Recife? A faculdade é importante porque dentro daquele meio claro que existem bons professores. Mas o curso é muito recente aqui. Talvez cursos mais tradicionais que existem em outros estados valham mais a pena.
O curso que fiz no senac...entre 10 professores, 3 valiam a pena. Das aulas dos outros professores, era melhor ficar em casa estudando por um livro ou pesquisando na internet. Então esse curso me fez desacreditar no potencial dos professores de moda no Recife.

C: Então você tá dizendo que é vacilo essas meninas todas estarem fazendo curso de moda em faculdade?

A.T: Não é vacilo não, porque existem bons professores e mesmo os ruins podem indicar bons livros. E como elas estão juntas no mesmo objetivo, dentro da faculdade elas mesmas podem debater sobre moda, conhecer novas pessoas do meio. Fazer uma faculdade sempre agrega conhecimento.

C: É bom ou é ruim ter tantas estilistas na cidade?

A.T: Quem ganha é o consumidor. É bom quando a gente se une porque agrega valor e força ao movimento relacionado a moda

C: E a classe é unida? Geralmente muitas mulheres juntas não se entendem.

A.T: As pessoas se unem com quem se identificam mais, é como uma banda. Você toca com as pessoas com quem você tem mais identidade musical, mas isso não que dizer que você não se dá bem com as pessoas da outra banda, pode rolar até uma jam.

C: Perguntei para uma modelo que entrevistei antes de você o seguinte. O lance de ter belas mulheres vestindo aquelas roupas, não desvirtua o olhar para a peça?

A.T: Uma pessoa bem intencionada que vai num desfile se concentra na roupa.

C: Por que tem que ter modelos bonitas? Afinal, quem vai vestir a roupa é gente comum.

A.T: Porque é mais fácil você se identificar com uma pessoa bonita do que com uma pessoa comum. Ninguém quer parecer comum como todo mundo, no íntimo, quer parecer bonito.

C: Então a modelo bonita é só pra enganar?

A.T: Não é para enganar, é para vender. Posso fazer uma pergunta no final?

C: Claro!

A.T: Massa.

C: Quais os estilistas que te inspiram?

A.T: Gosto muito do Alexandre Herckovitch. Mas o que me inspira não é o estilista, é o mundo em minha volta, são as coisas que vejo e sinto.
Eu não me considero uma estilista, sou uma pessoa que faz roupa.

C: por que essa distinção?

A.T: Assim fica muito mais simples, sem muita cobrança.

C: Só por isso? Achei que tinha algo conceitual no lance.

A.T: Sobre o algo conceitual é muito simples: não quero ser nenhum Herckovitch, só quero fazer o que gosto, conseguir me manter e ser feliz assim.

C: Já fizesse desfile fora de Recife?

A.T: Não, nunca fiz desfile fora de Recife. Tem que ter muito talento, sorte e dinheiro para poder investir, porque não adianta nada entrar no SPFW, conseguir um grande cliente que te faz uma super encomenda e tu não tem nem dinheiro nem mão-de-obra (costureira) para atender o pedido.

C: Nunca tinha pensado nisso. Tem que ter dinheiro para fazer moda, né?! Não é para qualquer um.

A.T: Se você pegar uma camiseta e remodelar, você está fazendo moda, então moda é para todos. Esse conceito é muito amplo

C: Voê acredita que o Recife pode ser uma referencia em moda no futuro?

A.T: Acredito, tem muita gente boa trabalhando pra isso.
Agora minha pergunta!

C: Claro, claro. Manda.

A.T: Você pretende fazer alguma faculdade de música?

C: claro que não. É para colocar isso na entrevista?

A.T: Claro que é.
Por que, você não acredita?

C: É importante o cara ter um curso e tal, mas para arte, faculdade não é decisivo. O que conta mais é o talento e determinação da pessoa.


*As roupas Andréa Tom podem ser encontradas na Abajour Lilás (Galeria Joana D'arc, no Pina, Recife - PE)

Página da Andréa Tom no orkut aqui. Comunidade da Andréa Tom aqui.

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 19.3.2006.