quinta-feira, 20 de julho de 2006

Reforçando: infos sobre turnê do Chico no 2o semestre

· Estréia dia 30 de agosto (quarta-feira)
Temporada: de 31 de agosto a 17 de setembro
Horários: quinta, 21h30; sexta e sábado, 22h; domingo, 19h

Local: Tom Brasil - Nações Unidas
Rua Bragança Paulista, 1281

Preços

· Camarote: R$160,00
·
VIP: R$160,00
·
Frisas: R$140,00
·
Setor 1: R$140,00
·
Cadeira Alta: R$120,00
·
Setor 2: R$100,00
·
Setor 3: R$ 80,00

Capacidade: 2.400 lugares
Classificação etária: 14 anos
Estacionamento com manobrista R$ 15,00 (antecipado) e R$ 18,00 (na hora)
Aceitamos dinheiro e cartões de débito e crédito (Visa, Mastercard, Credicard, Diners e Aura) / não aceitamos cheques
Acesso para deficientes físicos
Ar-condicionado

Informações e compra de ingressos:

· Bilheterias do Tom Brasil Nações Unidas
Rua Bragança Paulista, 1281 / Chácara Santo Antônio
(Horário de atendimento: seg a sab das 12h às 22h e dom e feriados das 12h às 20h)

· Compra por telefone
Ingresso Rápido - Tel: (011) 2163-2000
(Horário de atendimento: seg a sab das 9h às 22h e dom das 12h às 20h)

· Compra pela Internet
www.tombr.com.br
www.ingressorapido.com.br

· Pontos de venda
Shopping Iguatemi SP – Show Tickets
Av. Brig. Faria Lima, 2232 – 3o. piso – Alameda de Serviços
(Horário de atendimento: De seg a sab, das 10h às 22h e dom, das 14h às 20h)

Entrevista com o China: "Diploma de jornalismo não é preciso, basta você ter um texto bom"

Com 26 anos ele tem mais experiência que muitos artistas mais velhos. Ele canta, dança e representa. Além de ter um programa de TV que exibe clipes e entrevistas que mais parecem conversas entre amigos. Seu primeiro cd “Um só” apresenta letras que casam perfeitamente com as melodias. Aqueles que gostam de boa música estão no aguardo do segundo álbum que deve sair em breve. O nome dele é Flávio Augusto, mas podem chamá-lo de China.

O músico foi entrevistado pelo Dilúvio numa dessas tardes em Recife na rua da Aurora em seu local de trabalho, que mais parece uma daquelas casas no alto de Olinda. Para você, caro leitor, que nunca teve a oportunidade de conhecer essa cidade localizada em Pernambuco, eu explico: você entra e não quer mais ir embora, mais ou menos por aí.

Sempre muito simpático nos recebeu com um sorriso e, ao subirmos as escadas para chegar ao local onde seria a entrevista, nos deparamos com Marcelo Machado (guitarrista da banda Mombojó) tocando enquanto os acordes eram gravados para o novo cd de China. No ambiente encontrava-se uma geladeira, um colchão no chão, uma bateria, além da parafernália necessária para se fazer gravações.

China sentou-se no chão, assim como a repórter que vos fala (tão à vontade que tirou os sapatos). Entre cigarros, risadas e um flash e outro de Fabianne L’amour, teve início o bate-papo.

Você tem nove anos de carreira. Pra um moleque com 26 anos isso é muito. Ainda mais porque já trabalhou demais e realizou inúmeras coisas. Se fosse fazer um balanço da carreira, do que você se arrepende?

Nada. Porque até as coisas que você erra, você tá acertando, entendeu? É preciso ter o erro. Então eu não me arrependo de nada. Comecei na banda que eu queria começar. A banda que eu comecei minha carreira foi a banda que me projetou, sabe? As coisas que eu faço hoje em dia também são a soma disso tudo que já passou na minha vida. De todas as coisas que eu acertei e que eu errei. Eu acho que a única coisa que eu me arrependo foi ter feito alguns contratos que eu não deveria ter feito com gravadoras.

Antes você era o China do Sheik Tosado. Agora você é o China. Cantor solo e vocalista da Del Rey. Qual desses Chinas você gosta mais? Digamos musicalmente falando, você sente saudade daquela época em que tinha um som mais pesado?

Não. Saudade eu não sinto porque eu cresci. Ninguém agüenta ficar tocando hard core a vida toda. Foi massa, era coisa de moleque, atitude, mas eu cresci. Conhecer os meninos do Mombojó foi um salto gigante pra mim em termos de sonoridade, de composição, de tudo. A gente começou a ter banda e a compor juntos. Eu me acostumei a trabalhar do jeito que os caras trabalham, que é uma forma louca, desordenada, mas que funciona no final. Sem ter essa preocupação como no Sheik que a gente ensaiava todo dia. De segunda a sexta. Não tem banda que agüente ensaiar todo dia, sacou? E eu ainda sou um pouco mais maleável. Não sei qual o China que eu gosto mais. Eu gosto do China... China. Desde que nasceu. (risos)






O Del Rey é uma homenagem ao Rei Roberto Carlos. Uma brincadeira com os meninos do Mombojó. Uma brincadeira que deu certo. Eu já li que vocês não pensam em gravar e tal. Mas e o projeto? Vai levando por tempo indeterminado ou vocês já pensaram em parar?

O Del Rey vai dar uma parada agora porque eu começo a gravar o disco e os meninos viajam em turnê, então, a gente pára sem previsão de volta. Até porque é uma brincadeira, ninguém quer ficar rico às custas do Del Rey. Ninguém quer largar os projetos pra fazer o Del Rey. Ninguém quer ser Roberto Carlos, entendeu? O Del Rey é uma brincadeira e vai continuar sendo. É bom assim porque a gente acaba dando um tempo também pra gente criar outras coisas. E aí volta e é uma alegria. Tocar com os caras é a maior alegria. Eu acho que é recíproco também. É massa, a gente se curte no palco. É engraçado. Eu acho que o Del Rey tem que ser uma banda assim. De curtição, saca? E não fazer desse projeto um projeto assim de frente porque vai acabar sendo uma merda, entendeu? Então é melhor que seja assim, na brincadeira.

Você gravou o “Um Só” tem um tempo já. É um cd com músicas e letras muito legais. Como você compõe?

Eu componho toda hora. Escrevo toda madrugada. É que eu tenho insônia, aí eu fico acordado até as seis da manhã. Todas as televisões saem do ar e só ficam o papel e a caneta, então eu fico escrevendo. Eu componho assim: primeiro eu faço o poema e depois eu faço a música. Ou ao contrário. Depois que eu conheci os meninos (do Mombojó) mudou um pouco. Na época do Sheik eu escrevia em terceira pessoa, hoje em dia eu escrevo tudo em primeira pessoa, sabe? Uma coisa mais pós-moderna, mais confessional mesmo assim. Mas não tem uma ordem lógica, sabe? Às vezes eu escrevo, às vezes eu faço um arranjo. Mas eu curto mesmo fazer o poema.

Quando eu cheguei você disse que tava gravando o segundo cd aqui nessa espécie de estúdio que você tem. Como é que ta sendo a gravação e a produção?

Pô, tá massa. Segundo a galera, eu consegui juntar todas as joinhas da cidade. Marcelo Machado e Chiquinho (Mombojó) tão gravando, o meu irmão que tocava comigo no Sheik tá gravando, o baterista do Bonsucesso, Pupillo também vai fazer umas coisas. O disco vai sair pelo Candieiro, que é o selo que lançou Erasto (Vasconcelos). Tá bacana assim, velho. Bacana porque é só amigo, então nêgo não é músico de estúdio, aquele cara que você tem que pagar pra ele fazer bonito. Não. Os caras tão na brodagem e a grana que entrar a gente a gente rateia, entendeu? É meio esse esquema que eu funciono hoje em dia. Tanto no meu trampo como nas gravações.

E a H.Stern Band? Como é esse esquema?

Esse projeto eu comecei no Rio de Janeiro com meu disco solo (Um só). Eu fui morar lá, aí montei uma banda, com uma galera. Quando voltei pra Recife, eu disse: “Ah, vou montar uma banda aqui. Meu som tem que tocar”. Aí chamei Rafa, Ximaru, que tocava comigo no Sheik, e chamei pro teclado Pierre, Chiquinho toca de vez em quando, Marcelo Machado também toca de vez em quando, quando tá por aqui. É uma banda meio que mutante, não tem uma formação específica. É sempre quem tá ali. Os amigos que tão querendo dar uma força chegam: “estamos querendo tocar”, é meio um lance de H.Stern mesmo, você pega só as vitrines de cada banda e bota na minha (risos).

Você apresenta um programa de tv junto com Fábio Trummer. Como foi que apareceu a oportunidade de ter um programa de tv? E as idéias são sempre suas e de Trummer, tipo o clipe que vai passar, sobre o que vocês vão falar... Vocês seguem um roteiro ou é improviso?

Não tem muita ordem porque a gente não sabe fazer. Eu nunca tive experiência com tv, nem Fabinho. Na verdade eu fui a segunda opção porque era pra ser só ele. Só que aí ele disse que não queria porque ia ficar ruim com a carreira e aí Felipe me chamou e eu disse: “Ó, por que não faz eu e Fabinho? Porque enquanto um viaja, o outro fica e faz um esquema”. A gente vai mexendo no que a gente quer. A idéia do programa é ser meio um bate-papo em sala de amigo, saca? A idéia que a gente tenta passar é pé em cima da mesa, e sem se preocupar se tá falando gíria ou não. Pergunta o que você sabe que o cara vai ficar meio assim pra responder, mas ele vai acabar respondendo, porque o cara é seu amigo, entendeu? Então é um papo informal. Na verdade, é como se estivesse na sala da casa de Chiquinho, ou na sala da minha casa, ouvindo um som e conversando. Já que é também um lance que foge do padrão MTV, mesmo sendo um programa de clipe, a gente queria fugir desse padrão. Então virou mais um bate-papo e os clipes colorem programa.

Você escreveu uma matéria para a revista de Lobão e parece ter uma certa vontade de ser jornalista, mas largou o curso. Você acha que o diploma de jornalismo é importante?

Não. Precisa não. Porque basta você ter um texto bom, entendeu? Um texto bom e boas idéias. É legal você saber sobre lead, suíte, essas coisas todas, mas isso não é determinante, tá ligado? Pra um jornalista. Não é nem um pouco assim. Tem tanto cara aí que se formou e escreve mal pra cassete saca? Então eu acho que é tranqüilo, só ter um texto bom, ter boas idéias, saber o que você tá falando, procurar estudar aquilo. Jornalista não procura, não estuda, não lê release... Nada. Então como ele ia escrever? Eu não sou jornalista, então me sinto na obrigação de ler, de ir a site, de caçar notícias dos caras, pra poder fazer as coisas. E a revista do Lobão, eu fiz uma matéria que foi sobre o disco do Mombojó. Eu escrevia mais pra revista Simples, que é uma revista de São Paulo e agora eu tô com uma comunidade no orkut de entrevista que é tipo curtição mesmo. Eu faço entrevista por msn e email. Mais msn, porque tem aquela parada de que você não tem vergonha quando tá no msn, já que não está vendo a pessoa. Então você acaba escrevendo qualquer coisa e se a pessoa se ofender você diz: “Não, tô brincando”. E passou. É isso que é a parada. Eu boto pra fuder lá e o cara acaba entregando o que eu quero, tá ligado? E fudeu. Escreveu ali, fudeu. O cara copiou, colou, acabou. Aí funciona assim lá.

Você usa muito a web. Em suas comunidades no orkut, você sempre comenta, tem uma comunidade de entrevistas que são feitas pelo msn, no seu site as pessoas podem acompanhar sua vida profissional e tal... Todo mundo sabe e comenta o tanto que a internet é um espaço livre e ajuda muitos músicos. Ela te ajuda também a divulgar o seu trabalho e você a utiliza de forma muito eficiente, não é mesmo?

O meu msn é meu gerente de marketing. Pra banda independente é um gerente de marketing. Manda música pra todo mundo, divulga pra todo mundo. Tipo, eu tenho dois orkuts, porque um encheu. São mil e quatrocentas pessoas. Eu mando um email falando de um show pra mil e quatrocentas pessoas. Tem o lado babaca do orkut, que eu também participo, lógico, você não tem como fugir disso. Mas é um lance muito bom. Internet é foda. Pra quem não tem gravadora e um esquema de mídia forte, é o grande lance, saca? Os meninos do Mombojó lançaram o disco na Internet, nêgo baixava o disco e ia comprar na loja, saca? Então não fere o bolso do artista, o mercado e essas coisas.

E a imprensa pernambucana? Você acha que nos cadernos culturais rolam sempre as matérias sobre as mesmas bandas e tal... Como você vê isso? Porque tem muita gente boa que não sai nos jornais daqui.

Eu acho muito ruins os cadernos de cultura do Recife. Há uma falta gigante de críticos de música. Há uma falta de gente nova também no jornal. Tem muito cara velho escrevendo besteira, sabe? Escrevendo o que ele acha. O que ele acha já tá ultrapassado, tá ligado? Já tem uma galera nova fazendo. Eu acho fraco. Muito fraco o esquema de jornal. Curto muito o que Renato L. escreve, o que Marcos Toledo escreve, pra mim são grandes jornalistas, são sinceros nas opiniões. Uma vez eu dei uma entrevista prum cara, daí acabou o show e o cara chegou... Aí ele chegou e “Porra, puta show. Du caralho”. Aí na segunda no jornal o cara detonou o show. Caralho, esse cara brigou com o namorado ou com a namorada, sei lá, e... Saca? Porra, Bruno Nogueira é muito meu amigo, eu gosto muito dele, a gente fez faculdade juntos, mas eu acho que ele vacilou muito naquela matéria do Eddie saca? No jornal. Eu acho que não precisava. Ficou uma matéria ofensiva, não precisava ser assim, não precisava ofender ninguém. E quando eu o entrevistei na comunidade, ele se colocou como um crítico musical. Tipo, o cara tem 23 anos, ser crítico musical... É difícil né cara?

Em SP rolam os projetos do Sesc e também rola muito de você tocar em um lugar por temporada. Aqui em Recife não rola muito disso, você acha que faz falta um cenário como esse na cidade?

Falta. E não tem porque a galera ainda não instigou realmente de fazer, saca? Porque eu acho que funciona temporada, você toda semana... O Eddie fez uma no Rio de Janeiro que foi bacana pra caralho. Um mês tocando toda semana no Odisséia, um lugar lá na Lapa, e toda semana convidando alguém. Então é legal porque muda o show. Então nêgo que quer ver o cara que tá sendo convidado, vai. Então toda semana tem uma galera. Aqui em Recife não há muito esse negócio. E outra, tem muito show de graça. E nêgo não quer pagar pra ver show, o público tá mal acostumado na cidade. Agora tá uma mania aqui que nem no Rio de Janeiro: todo mundo quer entrar nos lugares. Eu nunca vi um lance desse. Seus amigos: “Porra, me arruma um convite aí velho”. Porra, tu é meu amigo, paga, me ajuda, ta ligado? Eu vivo disso, não vou ter aposentadoria, não vou ter nada. Eu vivo disso, pago os lances dos meus filhos com isso, sacou? E daí nego viaja muito nessas coisas de convite e tal. Acha que o cara é escroto. No Rio se você não der convite, você é escroto. Maior filho da puta porque não deu convite pro cara. É uma merda, por isso também que eu voltei do Rio. Mas eu acho que Recife é uma cidade que tá crescendo muito, em termos de cultura e artes em geral. Acho que tá se criando muita opção assim. É uma cidade que já dá pra viver de música. Não dá pra ser rico, não dá pra comprar tudo que você quer.

Então. Você foi pra o sudeste e voltou. Geralmente quem vai, não volta. Por que você voltou?

Além do lado profissional, tem o lado pessoal. Eu tenho dois moleques, morro de saudade dos meus filhos. As mães não vão deixar eles irem morar comigo no Rio ou em São Paulo, entendeu? Mas é normal isso. Eu fui em 99 com o Sheik. Morei um ano no Rio. Morei um tempo em São Paulo. Aí voltei. Aí fui de novo quando eu saí do Sheik. Aí voltei, tá ligado? Eu acho que é bacana ter esses espaços assim. Querendo ou não, a minha cidade é essa sacou? É o lugar que eu posso transformar, que eu conheço todo mundo e tenho condições de agir. Mas não descartando Rio e São Paulo, eu acho que é necessário. O cara lança o disco e tem que ir velho, no mínimo três, cinco, seis meses sacou? Lá, ralando e tal. Mas tem que ir. É bom esse lance de ficar indo e voltando saca? Tipo, a raiz é aqui, as coisas que você escuta, seus amigos que tocam pra caralho tão aqui. É mais fácil contar com a galera aqui, sacou?

Você estará no novo filme de Cláudio Assis como ator. Tem alguma participação na trilha sonora também? E como foi trabalhar como ator?

Eu participei da trilha também. Quer dizer, eu fiz uma letra pra Dida Paes cantar. Ela me pediu uma música porque ela queria cantar numa cena que ia fazer. Aí eu escrevi a letra e Pupillo fez a música. No filme eu participo como ator, até mais do que imaginava. Eu achei que era só aquele cara que passava de um lado pro outro. E foi massa, contracenei com uma galera massa, minha primeira experiência assim, achei bacana. Se pintar de novo eu vou. Engraçado que eu tava conversando com Caio Blat e ele “Pô, vou te botar numa novela”. Eu disse: “Não velho, só não faça isso. Por favor, tudo menos isso”.

Baixe o CD do China gratuitamente aqui!

Fonte: Maria Helena Silveira, correspondente de 'O Dilúvio' (Recife)/ fotos por Fabianne L'Amour.

China

Eu achava que ia escapar, mas não teve jeito. Fui entrevistado por Jú Barros, jornalista e minha amiga.
vamos lá...

Sou China, tenho 26 anos, 2 filhos e atualmente toco a minha carreira solo, o Del Rey e apresento um programa de TV, o Estereoclipe.
Essa entrevista foi concebida por email.

Jú Barros: Oi moço, tudo bem? Agora é a sua vez de ser entrevistado. E já que você gosta de perguntar vou começar querendo saber como foi o seu carnaval?

China: Sabia que isso ia acontecer...hahahahahahaha.
Meu carnaval foi ótimo, longe da folia, com a família, amigos...uma paz. Não sou muito fã de carnaval. Já gostei mais, hoje em dia me conservo distante, a não ser que tenha que trabalhar. Aí não tem como fugir.

J.B: Você não tocou no carnaval, mas subiu no palco do Marco Zero, no Recife, no show de Silvério Pessoa, Lula Queiroga e outros, qual foi a sensação?

C: Eu fiquei feliz pelo convite de Silvério. Ele e Lula Queiroga tem uma coisa muito bacana...sempre procuram estar perto de gente nova, se reciclando, dando dicas. Acho isso muito bacana. Gostei de dividir o palco com eles, com nena Queiroga, Alceu Valença...me senti honrado pelo convite.

J.B: Antes teve a prévia do Bloco Guaimum Treloso. Foi um ensaio?

C: Foi nada!!! Ali foi show mesmo. E dos bons. Mas foi depois desse show que partiu o convite de Silvério.

J:B: Quanto tempo de carreira você já tem?

C: Acabei de parar pra pensar nisso e descobri que eu tenho 9 anos de carreira. Conto pela data que começou o Sheik Tosado, 1997. Nem tinha me dado conta de que era tudo isso.

J.B: Por que voltar a morar em Recife depois de iniciar uma carreira solo no sul do país?

C: Acho que o Recife tá com uma condição muito melhor de trabalho do que o Rio de Janeiro, por exemplo. No Rio é muito complicado (falo do Rio porque fui morar lá). Você tem que dar convite a todo mundo e acaba sem nenhum tostão. Eles ficam chateados se não tiver nome na porta, essas coisas (em Recife ta acontecendo mesmo...kkkkkkkkkkkkk). É uma cidade legal, mas artisticamente só funciona como vitrine, dinheiro que é bom nada. Mas é engraçado isso. Nunca fiquei no Rio completamente, sempre tava por aqui. Aí foi aquela coisa: A saudade já tava grande, começaram a pintar várias coisas diferentes pra mim, vários convites, e aí eu resolvi voltar de vez. Não descarto a possibilidade de voltar pra lá, mas agora quero ficar um pouco aqui.

J.B: Dá pra viver de música em Pernambuco?

C: Não dá pra ser rico e nem dá pra comprar tudo o que eu quero, mas não posso me queixar das coisas. Dá sim pra viver de música em Pernambuco. Claro que o circuito é pequeno, a cidade não tem muitos lugares para se fazer shows, mas se o cara tiver uma regularidade de shows, dá sim para pagar as contas no fim do mês. Algumas pessoas falam que existe panelinhas e tal...porra, se existem as panelinhas, vire o tempero! Esteja em todas elas.Outra coisa: As bandas não fazem temporada num mesmo lugar. Tipo: Um mês num teatro, num bar, o que for. Isso é um lance que deveria rolar. Em São Paulo rola que é uma beleza, mas aqui nego tem esse medo pelo fato da cidade ser pequena, mas isso não rola. O Del Rey tocou um mês no super 8, e todas as semanas foram lotadas das mesmas pessoas. No fim do mês a gente já sacava a cara das pessoas, o lugar que elas ficavam, tudo igual.
Dá pra ganhar dinheiro em Pernambuco se o cara correr atrás!!!

J.B: São dois discos gravados, mas vamos falar do último, solo, "Um Só", como foi experiência de entrar no estúdio sem a antiga banda pra dividir a responsabilidade?

C: Foi lindo! Uma paz que você não acredita. Eu sabia o que queria desse disco. Timbres, conceito, tudo. Passei quatro anos pensando nesse disco. Trancado, escrevendo...se fosse com uma banda ia ser nó cego. Todo mundo ia dar pitaco, ia ser uma confusão danada...hahahahahhaaha. Banda tem dessas coisas...é uma comunidade e todo mundo tem uma opinião. Todo mundo quer falar algo, nem que seja só besteira, mas todo mundo quer.
Mas idéia já tava tão amarrada, que não rolou nem ensaio nem nada. O cara ia lá no estúdio, escutava a pré que eu tinha feito em casa, dizia mais ou menos o que queria, e o cara ia lá e barbarizava. O que foi mais legal, é que todos os músicos compraram essa idéia, e acrescentaram às músicas coisas muito melhores do que eu tinha pensando.

J.B: Del Rey, seu projeto paralelo junto com os meninos do Mombojó está indo muito bem. Você sente que a profissionalização dele está perto?

C: O Del Rey foi a idéia mais genial que a gente já teve. Nunca vi um negócio assim. O mais engraçado é que é tudo brincadeira. A gente não leva a sério a banda. É apenas a vontade que a gente tem de tocar, de tá junto, fazendo o que a gente gosta. As pessoas é que levam o Del Rey a sério. Tem gente que chega e diz: “Cara, vocês tem que gravar um disco.Tem que tocar na rádio e tal”. Isso é muito engraçado...somos uma banda COVER e querem que a gente toque no rádio. Tem gente que diz que somos melhores que o Rei. É uma onda isso. A gente só faz se divertir com essas coisas. Mas é um lance massa essa banda, é uma alegria da porra, no final a gente ainda ganha um trocado e homenageia o Rei Roberto. Heheheehehehehe.
Agora eu não entendi o fim da pergunta. A profissionalização de quem? Do Del Rey? Essa nunca. Do Mombojó? Eles já são profissionais a muito tempo.

J.B: Como é tocar Roberto Carlos de trinta anos atrás?

C: É como eu disse acima, uma alegria da porra. Nunca vi música mais contagiante, letras tão diretas, simples mesmo. O cara narra o amor verdadeiro, sem rodeios, sem Zezé di Camargo, essas coisas. É uma puta responsabilidade interpretar o Rei. Ele é o maior cantor do Brasil, merece um grande respeito. Não só ele, Erasmo também. Um compositor genial. Esses caras deveriam ser símbolos do país. De verdade mesmo. Não posso subir no palco e achar que estou cantando qualquer coisa. Tô cantando o amor, tenho que passar amor para o público, alegria, sinceridade. Enfim...Salve Roberto, salve Erasmo.

J.B: Como andam as suas próprias composições? Fala um pouco do processo criativo.

C: Eu escrevo praticamente todo dia. Claro que tem vez que rola o esquecimento total. Não vem nada na cabeça, nenhuma idéia, nada. Aí é uma merda, e se o cara ficar noiado piora. Já passei por isso uma vez e foi terrível. Passei 4 meses sem escrever. Já tava feito louco, mas aí um dia as idéias voltaram, a poesia chegou. Mas escrevo sempre e guardo tudo no infinito, minha gaveta de escritos. Esse negócio de processo criativo eu não sei como funciona. As vezes eu escrevo a letra e depois faço a música, as vezes é o contrário...não tem uma coisa certa. Mas um lance que eu me amarro é tentar escrever na hora que eu ouço a música. Com os meninos do mombojó rolou muito isso. Eles vinham aqui pra casa e a gente ficava escrevendo e tocando violão a tarde toda. Acredito que as 5 músicas que eu tenho parceria no disco deles saíram em pouquíssimos dias.

J.B: Vida cibernética. Você utiliza muito a web?

C: Muito! A internet é aquele espaço garantido para todo mundo. Você pode ser alguém em potencial dentro da rede. Basta saber usa-la da forma correta. “A força está com você, Luke”.

J.B: Blog, orkut, msn, software livre, de que maneira essa tecnologia te auxilia? Se te tirassem o micro o que você faria?

C: Se me tirassem o pc eu tava na merda. Costumo dizer que o msn é meu gerente de marketing. Mando minha música pra muita gente, de muitos lugares diferentes. É a maior mão na roda. O orkut por exemplo: tenho contato com 1250 pessoas. Cada email que eu mando vai para 1250 pessoas. Isso é muito bom para divulgar shows, contar novidades...sem internet não dá mais, principalmente pra gente que é “independente”(odeio essa palavra). É o canal que a gente tem pra circular o nosso trampo.

J.B: Como o Estereoclipe apareceu na sua vida?

C: Felipe Falcão, o diretor do programa, tinha convidado Fabinho Trummer para fazer, mas ele tava ocupado com as paradas do Eddie e não ia poder, aí Felipe me chamou. Mas depois Fabinho se organizou e topou fazer a parada. É legal pelo seguinte: Somos dois falando de um universo que a gente vive e conhece bem, e não prejudica as nossas carreiras. Quando um viaja em turnê, o outro segura a onda.

J.B: O que mudou pra você, além de cantor agora é também apresentador de tevê?

C: Aprendi outras coisas, outras formas de falar com o público. É um lance bem interessante de fazer. E lógico que também ajuda na minha carreira de músico. Tem mais gente me vendo, tô atingindo outros públicos que nem sabiam que eu existia. Talvez eu venda mais disco...heheheheehehe. Mas o mais legal é poder tá mostrando para as pessoas como a nossa cena musical funciona. Mostrando que temos uma música que pode ser ouvida por todos, sem essa onda de gueto. Fazemos música para as massas. Um exemplo disso é o clipe de Erasto Vasconcelos: O clipe dele é o mais pedido, campeão disparado no programa. Todo mundo gosta. Um dia eu entrei na padaria que fica na esquina da minha casa, e uma balconista disse:” O clipe dos jabutis é muito bom. A música é massa pra dançar. Toda vez que tu passa isso no programa a gente fica dançando aqui”. Ela estava se referindo ao clipe do Chambaril, que faz uma música eletrônica e sem voz, sem cantor. Não é bacana isso? Quando a balconista da padaria ia ter acesso ao Chambaril? Nunca!

J.B: O que mais te decepciona na imprensa, a pernambucana, por exemplo?

C: A falta de cuidado que eles tem com a matéria. Erro de português é bóia. Um jornalista não pode escrever errado, ainda mais tendo um computador que corrige o que a gente escreve errado. Uma vez um jornalista escreveu sobre o meu disco...tu acredita que ele errou o nome das músicas? Escreveu errado, e com o disco na cara dele. Isso é foda. A falta de cuidado que eles tem com a notícia é uma coisa que me deixa muito triste. Também não gosto dos críticos musicais que tem aqui. Não vejo argumento, certeza no que estão dizendo. As vezes eu acho que eles pensam que se garantem nisso. Não deviam pensar assim...hahahaahahahaha. Mas daqui de recife gosto muito de Renato L. e Julio Cavani. Esses tem sempre bons argumentos, são sinceros, e não querem crescer as custas de polêmicas.


J.B: Você acredita em gnonos, papai noel e no Sport Club do Recife?

C: Você acredita que o Santa Cruz vai passar mais de um ano na primeira divisão?

J.B: Quando teremos o ar da sua graça nos palcos novamente?

C: Em breve...parece que tem um Del Rey em abril. E show meu só deus sabe quando. Tô concentrado no disco novo agora.

J.B: Como fica a produção do segundo CD solo?

C: As músicas estão prontas e acredito que, no máximo em abril, já esteja no estúdio gravando. Tem umas novidades aí pra rolarem, mas não posso adiantar agora. Posso dizer que vou produzir o meu disco com a ajuda de amigos.

J.B: E pra terminar: Você já casou?

C: Não!


Site do China aqui. Comunidade do China no orkut aqui. Comunidade do Del Rey no orkut aqui. Comunidade do EstereoClipe no orkut aqui. Páginas do China no orkut aqui e aqui.

Baixe o CD do China gratuitamente aqui!

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 12.3.2006.

Jarmeson Lima

JARMESON DE LIMA NASCIMENTO - 27 - Jornalista de profissão e Produtor cultural pelas circunstâncias. Trabalhando no Coquetel Molotov e em seus projetos (revista, rádio, zine, site, shows, festival) em prol da música local, regional, nacional, mundial e universal.

*Essa entrevista foi concebida via msn.

China: Tu conhece algum outro Jarmeson?

Jarmeson: Com esse nome, com exatamente todas as letras nos devidos lugares ainda não. A galera confunde muito. Até nem ligo tanto quando falam. Só fico com agonia quando sai escrito. Inclusive deve haver um cara de nome parecido que recebe meus emails quando o pessoal manda errado.

C: Tu me disse que era jornalista, mas chegasse a trabalhar com isso? Escrevesse para algum lugar?

J: Já sim. Afinal, jornalista hoje em dia faz mais coisas do que trabalhar só em jornal. Já estive em assessoria, em ONG, em portal de internet, em comunicação empresarial. E nesses lugares acabava fazendo o básico e um pouco mais. Escrevia coisas de comunicação interna e assessoria. Às vezes tirava foto também. E principalmente ficava cuidando da parte de internet desses lugares, atualizando os sites.
E sem falar que muitas pautas que escrevi e releases que mandei pra jornais e sites, acabaram saindo quase que 90% iguais aos que tinha feito. Então, acaba que também escrevi indiretamente pra jornal também.

C: É verdade, os jornalistas andam muito preguiçosos. Mas são bem atenciosos com as coisas do cocquetel molotov. Sempre sai matéria bacana lá. Vai ver é porque você já manda a nota pronta.

J: Nem tanto. É que (modéstia à parte) alguns dos textos que a gente escreve, escreve com mais cuidado, tem mais tempo pra escrever sobre um assunto que entende e quando sai, sai com uma forma mais cheia de conteúdo. Aí quando a pessoa recebe, não tem muito o que fazer, além de editar, e isso facilita o trabalho do jornalista, afinal.

C: Bela tática.

J: Até porque como trabalho com isso, sei exatamente como funciona.

C: Porque o cocquetel molotv virou um conglomerado de coisas? Não seria mais fácil concentrar só em uma?

J: É porque hoje é um aglomerado de coisas. No começo era uma só coisa. Era um programa de rádio, na Universitária AM. Só que a gente foi vendo que não era suficiente. Porque uma coisa puxa a outra e quando a gente percebe, tem mais de 5 projetos rolando ao mesmo tempo. Se for parar pra ver, uma coisa complementa a outra e ajuda a gente a divulgar melhor o trabalho da galera.
Quando a gente começou no programa de rádio, em 2001, nenhuma rádio tocava o que hoje é normal ouvir por aí.

C: É muito bom ter o controle de tudo! Vocês se sentem um pouco assim? Domadores da cena atual?
J: Só falta grana e mais gente.
Tá longe ainda. É como o caso do artista que tem disco lançado e que recebe elogio da crítica, mas que não é sucesso de público e vice-versa. Da mesma forma que tem quem nos ajude a trabalhar e gente que não aceita que exista mais pessoas na sua mesma área. E estamos ainda há pouco tempo nesse "mercado" cultural. As empresas, que são e que deveriam apoiar mais a cultura, quase nunca tem quem entenda do assunto. Parece que não lêem jornal e quando a gente se dirige a uma empresa pra falar dos projetos, temos sempre que repetir tudo.

C: Mas tu tem noção de que o público dos eventos do coquetel molotov é restrito, né?
Digo, interessa a um publico x.

J: Mas aí é que está, o que é esse público? Quem é esse público? Eu não sei rotular o público dos projetos do Coquetel Molotov. Vê só, no festival No Ar 2004, quando veio o Teenage Fanclub, tinha tanto gente mais velha que queria ver a banda, quanto ainda tinha o público jovem (considerado "indie") que queria ver as outras bandas também. Ainda assim, esse lance de público é relativo, porque a gente trabalha com música. Se o estilo é conhecido ou não, se o ritmo é contagiante ou não, é apenas uma questão de fazer com que as pessoas passem a conhecer essa música.
Pois é. A maioria das pessoas não quer ouvir nada novo. Se acostumou muito ao que já existe e ao que chega pronto no colo delas.
E quando vejo que tem quem se interesse em ir atrás de coisas novas, isso é ótimo. Digamos que o público do coquetel é todo aquele que gosta de descobrir novidades. Seja em que estilo musical for.

C: Mas o que impera no festival e em quase todas as coisas que vocês fazem é a musica, digamos assim como os jornalistas, indie.

J: Exato. É uma coisa que cada um de nós gosta. Gostamos muito de ouvir música e tal. Cada uma das meninas tem um gosto parecido e ao mesmo tempo diferente, que permite que a gente chegue pra interferir e debater sobre o que é legal ou não.
Por isso é que o festival acontece num teatro. Para as pessoas se concentrarem na música, prestar atenção nos detalhes, na acústica e sentir mais do que ir a um show por aí e se preocupar com a bebida e com a galera. Tudo bem que isso é massa. Eu saio de casa na maioria das vezes por conta disso. Mas isso desvia sua atenção do que é primordial num caso desses. Você está ali por conta da banda e não por conta da bebida. Beber dá pra beber em qualquer lugar e qualquer hora. Um show do Berg Sans Nipple em Recife é algo único. Um evento que quem perdeu não sabe quando verá de novo e se verá um dia. Deixou de aproveitar uma experiência única.

C: Acho bacana ser em teatro. Gosto muito de tocar em esquemas assim. Quem senta ali pra ver, é por que tá afim daquilo.

J: É, dá para apreciar melhor o som por conta da acústica. Afinal, o público quer qualidade.

C: Cara, só tem tu de homem no coquetel. É difícil trabalhar com tanta mulher? Se bem que várias pessoas invejam seu posto...hahahahahahaha.
J: Ah, sempre é difícil. Trabalhei em vários lugares em que eu era minoria masculina. Mas independente disso, cada uma das meninas tem um humor próprio e um jeito diferente de trabalhar. Acabei me acostumando. Afinal, antes de tudo, somos todos uma grande família. Meninas, amo vocês!

C: Tu curtiu o movimento mangue?

J: E então! Estive lá acompanhando há doze anos atrás toda essa cena. Fui ao memorável show de Chico Science & Nação Zumbi no Circo Maluco Beleza, no APR de 94, ou seria 95? Foi o que teve duas noites, sendo a primeira com Gabriel, o Pensador. Fui a vários shows do Mundo Livre, do Mestre Ambrósio e de muita gente. Tenho inclusive gravado uns especiais de TV que passaram sobre o mangue nessa época. Hoje em dia dá pra assistir e ver como algumas coisas ficaram datadas e como outras permanecem boas. Só que o que estragou tudo isso foi o oportunismo da galera que quis pegar carona na "fórmula" guitarra + alfaia. E acabou desacreditando a tudo e todos.

C: É verdade, a quantidade de maracatus também aumentou bastante. Maracatus do baque atravessado.

J: Mas hoje dá para ver com esse distanciamento crítico o que acabou sendo tudo isso de uma forma melhor. Inclusive minha monografia da pós-graduação analisou um pouco disso tudo em Recife.

C: E qual foi a conclusão?

J: Tem muitas conclusões na verdade. A primeira é que de tanto baterem nessa tecla de "pernambucanidade", tanto pela imprensa, quanto pelos "oportunistas", boa parte do público se tornou um pouco radical. E isso dá para sentir até hoje um pouco disso. Você enxerga esse radicalismo em coisas como ver como vi aqui mesmo no orkut, na comunidade, um pessoal falar que banda que canta em inglês é uma merda sem nunca ter ouvido ou prestado atenção. Guiam-se apenas por uns estereótipos e esquecem de algumas coisas como:
1- A música é universal.
2 - O idioma é um instrumento na música (se você canta em português, espanhol ou inglês) isso tem a ver com o que a pessoa quer na música;
3 - Liberdade artística de criação.
4 - Querem tanto que as músicas tenham mensagem, então por que não questionam a mensagem das letras de outros grupos que cantam em português também?

C: Praticamente um desabafo.

J: E nem é um desabafo meu. É pelo que mais ou menos eu sei que vão falar, até porque hoje em dia rola tanto esse estereótipo de "indie" e ninguém sabe mais do que está falando. Esse é um conceito que ficou tão batido, que cada um tem uma concepção diferente.
Pelo contrário. Basta as pessoas olharem os playlists do programa de rádio, que estão no site e ver que tem espaço pra todo mundo. A questão é que, por exemplo, a gente trabalha com critérios pessoais e de qualidade, claro. Não dá para tocar a banda de um cara só porque ele pede ou porque ele acha que é boa. Se fosse assim, a gente estaria enganando a ele próprio e a nós mesmos. Sem falar que existem mais produtores na cidade que trabalham com estilos e bandas que estão mais a fim. E a gente quer dar espaço justamente a bandas que a gente curte e que tem uma proposta diferente, mas diferente do que já existe por aqui. Não que a mistura de ritmos não possa mais ser original, mas é que ainda tem muitas bandas que a gente vai descobrindo que tem coisas para mostrar.

C: Mas nos festivais, que eu me lembre não entrou nada assim, mais misturado.

J: Mas basta ver pelo outro lado. Quais outros produtores aqui trabalham com bandas de estilo experimental, eletrônico, noise, inclassificável?

C: Ok, Jarmeson, você venceu! Falou tudo.

J: O mellotrons existe há quase dez anos, e nunca ninguém quis dar uma chance para eles tocarem num festival grande. Na época do Coquetel Molotov Independente I, em 2004, antes do Microfonia, o Mellotrons foi capa do Caderno C. E foi o mesmo evento que fizemos que também revelou o Volver, que meses depois ganhou o microfonia.
Tipo, todo mundo diz que ajuda e que dá apoio às bandas, mas ainda assim rola essa barreira. Esse preconceito com o novo, sabe.

C: Mas a música indie não é nova, isso já se fazia antes mesmo do mangue beat acontecer, só que tinha outro nome.

J: Exatamente! Supersoniques e Dreadful Boys, por exemplo, eram bandas que poderiam ser consideradas "indie" hoje em dia, mas que na época, por todos serem amigos e por tocarem sempre juntos com quem era "mangue", não rolava esse preconceito. Mas hoje, digamos que os produtores não topam muito arriscar essa mistura de público. Mas se for ver, muitas das bandas "indies" atuais tem bastante afinidade sonora com as que já estão há mais tempo por aí. Sem falar que é aquele rótulo e discussão que a gente sabe que só existe na cabeça das pessoas.

C: O que tu anda ouvindo?

J: Vejamos, baixei o disco novo do Stereolab, mas ainda não ouvi tudo. Tô ouvindo uma coletânea chamada "Electro Breakdance". Também uma banda canadense muito boa: controller.controller. Além do disco do Profiterolis, umas coisas de João Donato e o disco udigrudi de Marconi Notaro no Sub Reino dos Metazoários. Não vale dizer que tudo isso é muito indie. Quem ouvir isso e dizer que não gostou, que atire o primeiro vinil!

C: Acho esse papo de indie é uma grande furada, acho mais é que as bandas precisam unir forças, criar circuitos.

J: É um rótulo que o pessoal da imprensa gostou de usar. Mas não foi culpa nossa. Em nenhum release que mandamos, usamos até hoje essa palavra, Só quando é para tirar onda. Aí digo que é "off-mangue", coisa assim. Só para perceberem do que se trata. Afinal, é difícil pra um jornal ou revista que tem problema de espaço escrever sempre "as novas bandas independentes do recife". É mais curto escrever simplesmente "banda indie”.

C: Mas esse papo de off - mangue nunca deu problemas pra tu não?

J: Acho que dá problema pra quem interpreta mal. Mas é igual ao que acontece na maioria das vezes. Quem mais critica e fala mal é quem não entende ou sabe o que fazemos. Esse "conceito" é tão somente um prefixo para designar quem tá "on" e quem tá "off". Ao invés de "off", poderia ser "pós-mangue". Mas aí alguém já veio antes e falou que o mombojó e bonsucesso são "pós-mangue". É mais fácil explicar a quem tá de fora dessa forma. Afinal, nem todo jornalista de fora do Recife sabe que existem bandas de metal, rap, emo, pop ou shoegazer na cidade. Todos acham que só existe mangue. E daí a ter que explicar toda essa trajetória, o tempo passa e o cara fica mais perdido do que tudo.

C: Acho que o conceito mangue é muito vago. O mundo livre e a nação zumbi fazem sons completamente diferentes. Nunca foi um esquema só musical, era um lance de idéias, uma sacada.

J: Pois é. É coisa da época. Do lance de união e de chamar a atenção de uma cidade que só conhecia recifolia, carnaval e são joão. Foi incrível isso. Por mais mercadológico que isso depois tenha se tornado, a ponto de fugir ao controle de zero4 e do pessoal da nação, se não fosse o manguebeat, o mercado musical da cidade estaria estagnado. E isso deu um impulso enorme para que hoje existissem técnicos, estúdios e gente que trabalhasse com rock no recife. Senão, a cidade acabaria igual a outras capitais daqui do nordeste, que mesmo com ótimas bandas, não conseguem se projetar fora como cena.
E (momento "sem bairrismo") Recife tem a maior expressão e respaldo musical em termos de nordeste. Não digo, nacional, porque aí seria demais, né!

C: Tem algum perigo de uma banda on - mangue tocar no festival?

J: Depende. O que é, afinal, ser mangue?


Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 13.4.2006.

Bruno Nogueira

Bruno Nogueira, 24 anos, três anos de profissão. Trabalha na Folha de Pernambuco. Já foi do Jornal do Commercio e tem uma coluna no Giro Cultural (www.girocultural.com). Também colabora para as revistas Galpão do Rock e a revista Coquetel Molotov.
Há algumas semanas atrás, o nome Bruno Nogueira ganhou tremenda repercussão. Tudo por causa da crítica ferrenha que ele fez para o novo disco do Eddie.
Essa entrevista foi concebida via Msn.

China: Como é o esquema de um jornal, cara? O lance de prazo para entrega de matéria é muito curto, né? Tem um tempo de quanto tempo para se fazer uma matéria? E se ela não tiver pronta, como fica?

Bruno Nogueira: O esquema: toda segunda-feira a gente tem uma reunião. A gente discute o que teve de errado e certo na semana anterior, como melhorar etc. Depois, cada repórter traz suas pautas para o editor, que decide quais vão sair e em que dia. Às vezes o editor traz pautas também.... Num caderno de cultura a gente tem bem mais tempo que o resto do jornal, pq a gente sabe com mais antecedência quando as coisas
vão acontecer. Apesar disso, ainda é apertado, porque são muitas matérias. A gente tem até 13h pra entregar a matéria do dia seguinte. Se não tiver pronta, o jornal leva furo e o repórter leva bronca para casa...
(e pro recursos humanos)

C: Mas se a matéria não tiver pronta, vocês inventam ou deixam isso para o editor? hahahahahaahahaha...

B.N: Não dá para inventar. Os concorrentes vão dá a mesma matéria, é muito óbvio ver quando o cara inventou. Se não tiver pronta, tem duas opções. Uma é sair com pouca informação (para não perder de ter dado o assunto) ou apenas não dá a matéria... Algumas deixam para dar depois. Tenho uma que já está se esticando há três semanas, por sinal.

C: O que tu acha dos jornais de recife? Falando francamente: são bons jornais? A minha impressão é que são jornais feitos para uma cultura mediana.

B.N: Francamente? Os jornais do Recife são os melhores do Nordeste. Se você ver em Natal, eles tem dois jornais onde o caderno de cultura é ocupado 80% com coluna social. Além de relações estranhas (os editores do caderno de cada jornal são casados, por exemplo). Há pouco tempo, esteve aqui na cidade um cara q é doutor em jornalismo lá de salvador e ele ficou espantado como a diferença de qualidade é grande.
O Jornal do Commercio é uma referência nacional... Bate em qualidade muitas das principais capitais do país. A equipe fatura prêmios toda semana. Isso força uma concorrência saudável com os outros dois, que precisam melhorar para poder vender... Mas o caso é que o jornalismo no brasil todo é muito pobre. O do recife não é diferente. São jornais bons, mas nesse contexto pobre.

C: Mas em compensação, o jornal do commercio tem o rabo preso, e não podem falar de certas pessoas ou de certas negociatas que envolvem as instituições que botam dinheiro no jornal. Falando nisso...Tu acha que o jornalismo no Brasil tem o rabo preso?

B.N: Tem sim, claro. São empresas como outra qualquer. E toda empresa tem o rabo preso. No Sudeste isso é menos hipócrita. A folha de São Paulo, em época de eleição, sempre bota um edital “estamos apoiando candidato X ou Y”. Isso na verdade até aproxima mais o leitor, mas aqui não existe essa visão... Fora que os jornais daqui são parte de grandes empresas. O JC não vai falar mal dos shoppings, porque é do mesmo dono. A folha e o diário também fazem parte de um grupo de empresas. Mas...aliás, nada... é só isso mesmo. Eu ia me repetir.

C: hahahahaahahahaaha
Tu é repórter ou também trabalha como critico musical? Que palavra escrota essa...”Crítico musical”. Ahahahahahahahaha.

B.N: Na verdade, minha função principal é crítica musical. Eu não tenho que fazer reportagens sobre nenhum outro assunto (a não ser que eu queira). Preciso fazer reportagens sobre música, mas acho que isso faz parte do trabalho do crítico. Como a que fiz dos shows na livraria cultura ou sobre o cara que criou um suporte especial chamado Massa, para facilitar tocar pandeiro, etc...

C: Você não acha que é uma palavra muito forte não? "critico musical". Imagina-se um cara que já ouviu tudo o que há de som no mundo...Não é meio arriscado ter essa alcunha para um jornalista iniciante?

B.N: Não acho. O trabalho do crítico não é ouvir todo som que há no mundo. É ter senso crítico, observar o objeto cultural e extrair sentido dele. E isso você começa a construir bem antes de ser jornalista. Meu pai é cantor e foi gerente de rádio a vida toda. Nasci e cresci ouvindo música, entre músicos, repórteres e representantes de gravadora, rádio, etc. Um jornal não escolhe um crítico de maneira aleatória. Além de toda essa pré-formação (conheço Teles desde os 11 anos, antes disso, Roger vivia aqui em casa trazendo disco pro meu pai tocar na Caetés), eu corro atrás também. Terminei uma pós-graduação agora sobre crítica cultural e tô começando (amanhã!) o mestrado na ufpe em crítica de música. Estrada conta, mas não é o que define um crítico. É a vivência dele, e nesse sentido, não acho a palavra forte.

C: Não acho José Teles (Crítico musical do Jornal do Commercio) um bom crítico. Acho que ele parou no tempo. Das bandas antigas ele conhece muito, tem propriedade...mas das coisas de agora, eu sinto nele um certo desinteresse (acho que é por isso que ele escreve errado os nomes das bandas, das músicas) pelas coisas atuais. Enfim...posso estar enganado, mas não gosto do que ele escreve na função de jornalista.

B.N: E isso prova que ter muito tempo de estrada não é suficiente para fazer o crítico. Teles é uma referência nacional pelo que ele fez. Hoje, ele não esconde que está cansado. Porque é uma rotina que ele já vive há mais de 30 anos.
Quando disse aquilo de Teles e Roger, quis dizer que desde que era pirralha, eu trocava idéia de música com essas pessoas, que são hoje os principais formadores de opinião da cidade... Roger nem deve lembrar mais disso.

C: Você gosta do que Teles escreve?

B.N: Eu gosto do que ele escreve sobre alguns assuntos... Não acho que nenhum crítico seja bom escrevendo sobre tudo. E nesse ponto o jornalismo cultural daqui é fraco. No jornal Le Monde, da França, tem seis pessoas só escrevendo sobre música. Cada um numa área diferente. Gosto do que Teles escreve sobre música antiga... e ele também foi o primeiro crítico q eu pensei que não sabia de nada, quando ele disse que Eddie Vader desafinava...numa época q eu adorava o Pearl Jam. Mas o cara é uma enciclopédia ambulante. Você diz um nome e ele passa o resto do dia te dando referências de todas as pessoas que escrevem aqui na cidade. Eu sou fã mesmo é de Renato L!

C: Uma vez li uma crítica do cara do recife rock (www.reciferock.com.br) sobre desafinação. Eu acho da afinação o seguinte: não é fundamental! O funk carioca e o punk, tão aí pra comprovar isso. Acho que show é um lance de carisma, de sinergia...

B.N: Eu não acho que o crítico deve observar essas coisas. Desafinar, hoje em dia, já é estratégia de comunicação. Quem tem que observar essas coisas é o produtor musical, e muitos críticos se confundem com essa função.

C: Falou bonito...

B.N: Dizem que crítico é músico frustrado. Eu digo que crítico é produtor frustrado.

C: Rapaz...tu sabe que eu nunca tinha olhado por esse lado. É verdade!

B.N: hehehe

C: O que tu gosta de ouvir?

B.N: Minha banda favorita é o Ramones. Mas acho que o Ramones e o Bad Religion são hoje as bandas que menos escuto. Hoje eu gosto muito dessas novas bandas de rock, tipo Strokes, Interpol, etc. Esse som feito de 2001 pra cá.
É difícil criar gosto constante quando eu tenho que ouvir tantos cds por dia. Sexta-feira eu recebi cinco, ainda nem ouvi todos direito.

C: E de Recife, tu gosta de que?

B.N: Pra mim, o melhor daqui, disparado e sem discussão é Junio Barreto.
Comprei o cd dele na loja sem nem perguntar o preço. só comecei a gostar de Nação depois do Futura, o disco novo. Das bandas novas, eu gosto muito da Volver, da Carfax e do Playboys.
Apesar da controvérsia, gosto do Eddie, especialmente o primeiro disco. Queria que eles tivessem continuado tocando rock. Mas meu ponto fraco é Otto. Todo mundo tira onda porque eu gosto da música dele. Não gosto das músicas do Bonsucesso, nem daquelas Barbis.

C: Eu gosto de Otto...mas já que você falou no Eddie...
Tu ganhou uma notoriedade de umas semanas pra cá por causa da matéria que você fez sobre o novo disco deles, o Metropolitano. Foi crítica ou reportagem?

B.N: Crítica. Reportagem tem personagens, entrevista, fontes, etc. Crítica é somente eu. Meu espaço no jornal é pequeno, menor que o dos meus concorrentes. Sempre que eu precisar optar entre dá crítica ou reportagem, vou dar a crítica. Porque nas reportagens só faz se repetir o que o outro já disse.

C: Você acredita nessa coisa que dizem, que para o jornalista ser famoso, ele precisa ser polêmico? Você tem noção de que aquela crítica foi polêmica, né?!

B.N: isso não é uma coisa que dizem...é um fato. O crítico de música mais famoso do mundo, o finado Lester Bangs, ficou famoso por ser polêmico. Numa entrevista clássica, ele gasta quatro páginas somente xingando Lou Reed. Aqui no Brasil, é o caso do Finatti... Se eu escrever o melhor texto da minha vida falando bem do seu trabalho, ninguém vai comentar. Se eu escrever meia linha falando "china é feio”, vai ser o assunto da semana.
Tenho idéia da polêmica sim...tive enquanto ainda estava pensando no que ia escrever.

C: Você escreveria a mesma crítica de novo? Não acha que pegou um pouco pesado?

B.N: Acho que mudaria pouca coisa. Não acho que peguei pesado. Escrevo daquele jeito...só foi notado porque foi com uma banda da cena. Mas eu peguei pesado de verdade com bandas de forró, de brega, com os shows de verão. Existe um vício de promiscuidade entre quem está no jornal e quem está do outro lado. Tenho um amigo que trabalha em outro jornal que já disse "não falo mal de banda porque dá confusão".

C: Não acho que seja por aí. Acho que o jornalista tem que escrever sim, mas dentro de uma coisa aceitável. Eu achei que tu pegou pesado.
Mas enfim...se tu recebesse um i pod com as musicas do Eddie, tu falaria bem do disco?

B.N: Eu já recebi passagem de avião, hospedagem, refeição e transporte (isso tudo é o dobro do preço do ipod) e falei mal de um show que foi realmente ruim.
Peguei pesado no que, especificamente?

C: Respondendo a sua pergunta, acho que foi um pouco preconceituosa com quem é de Olinda.

B.N: Se for minha opinião, eu não vou mudar.

C: Acho que deve ser por aí. Mas vem cá: o cara que abre o jornal...ele quer a informação ou sua opinião? Já pensasse nisso?

B.N: Já sim, eu estudo isso há sete anos. E ele quer opinião.

C: Eu sei. Fomos amigos de faculdade...hehehehehe...

B.N: A informação: o disco do Otto foi lançado, ele vai ter em qualquer lugar. Hoje em dia existe uma explosão de blogs, não apenas porque as pessoas querem dar opinião, mas porque tem muitas querendo ler também. O leitor quer se identificar, encontrar alguém que comunique o que ele pensa. Você ia ficar espantado com a quantidade de emails e pessoas que concordaram com o que eu escrevi sobre o novo disco do Eddie

C: Imagino...

B.N: Sobre isso... Na época, eu fiquei com medo. Eu cheguei a ser ameaçado de morte por uma pessoa que trabalha com a banda. Minha chefe chegou a insistir que eu entrasse com um processo. Passado esse exagero, eu fiquei muito feliz com a maneira como as pessoas voltaram a debater música. Nos bares, em casa, na internet. Parece que isso tinha morrido na cidade. Fico espantado como existem debates e palestras sobre cinema aqui, enquanto ninguém produz cinema de verdade. Por outro lado, tem uma porrada de banda e festival, mas ninguém tá discutindo música. De repente descobri que as pessoas estavam debatendo essas coisas. Do valor da crítica, do valor do disco, da relação das bandas com público e cidade.

C: Você foi ameaçado de morte? Como foi isso? Que louco, cara...

B.N: Foi pelos comentários do site da folha. Um cara deixou um “cuidado por onde você anda, se eu fosse você não entraria em Olinda, quero falar com você”. Mandei um email pro cara e, no meio da conversa, ele disse que trabalhava com a banda. Enfim, a história se resolveu já.

C: Nem dá para acreditar...hahahahahahahha. Na hora deve dar um puta medo, mas depois deve ser muito boa a sensação. “Porra, fui jurado de morte por causa de uma matéria”. Mas você conversou com Fabinho Trummer depois disso, né?!

B.N: Eu fiquei preocupado porque no fim de semana seguinte tinha um show do Eddie e eu ia precisar estar lá...e ainda tava no calor das coisas.
Conversei com Fabinho e com Léo, o produtor. Na verdade, fui conversar com eles porque vieram fazer fofoca, dizendo que eles estavam espalhando que eu levei uma gaia. Recife é foda por isso. E essas coisas se espalham. Se isso chegasse no jornal ia ser pior pra mim que pra eles. Então precisei conversar para ver qual era. Não foi para justificar o que eu escrevi.

C: Na verdade esse papo de gaia sempre rola. Quando alguém fala mal do outro em jornal e tal...nego costuma dizer..."ah...isso foi por causa da gaia que eu botei nele e tal..." mas não passa de conversa mole.

B.N: O que é foda é você misturar uma coisa profissional com pessoal
As bandas aqui estão muito mal acostumadas a serem babadas nos jornais. Fabinho chegou a me dizer que quem lesse a Folha PE agora, não ia comprar o cd. Isso não acontece. A crítica não tem esse poder.

C: É, isso não acontece. Ninguém deixa de comprar cd porque leu uma crítica ruim no jornal. Até porque nego não consegue ouvir o disco pelo jornal.
B.N: Queria eu ter esse poder!

C: Bruno, acho que é isso. Valeu mesmo, cara.
Tem algo que tu queria dizer além dessas declarações?

B.N: Hum...

C: Algum conselho para os jornalistas que virão, talvez...

B.N: Tem. Eu montei um site tá fazendo um mês. Lá tem todos os meus textos que são publicados no jornal, nas colunas e outros. Quem quiser ler, o endereço é: www.popup.mus.br

C: A galera acha o texto sobre o Eddie lá?

B.N: Acha sim.
O conselho pra quem quer escrever sobre música, é ouvir muita música. Desesperadamente, como se sua vida dependesse disso.

C: E depende, né?

B.N: Exato!


Blog Pop up! aqui. Site do Giro Cultural aqui. Página do Bruno no orkut aqui.

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 10.3.2006.

Cláudio N.

Claudio N, tem 24 anos, músico, e um dos idealizadores do Chambaril, projeto em parceria com Pierre Leite. O Chambaril chamou a atenção da mídia no ano passado, quando lançou o seu primeiro CD pelo selo Coquetel Molotov.
Claucio N. nos fala um pouco dos caminhos que o Chambaril pretende seguir daqui por diante.

*Esta entrevista foi concebida via msn.

China: Por que você e pierre montaram o chambaril, se não fazem shows? A ideia do projeto é essa?

Cláudio N: A gente mudou o formato de apresentação ao vivo, vamos tentar a nova formação nesse dia 23/06, no araiáda tomazina (Recife antigo).

C: E como vai ser agora?

C.N: Eu no baixo, Pierre nos synths, Cristiano Lengruber(negroove) na bateria, Carlos Cabeça(profiterolis) na guitarra e Vini(astronautas) na guitarra. Vamos tocar os samplers com instrumentos mais orgânicos. Não vamos mais usar laptop. Vai ser uma vibe mais banda.

C: Nem samplers?

C.N: Samplers só para as vozes...e uma textura aqui e acolá, algo que nossos instrumentos não consiam fazer. Por sinal a gente podia marcar uma tocada no Estereoclipe, mago...

C: Claro, quando quiser.
O disco de estréia foi bastante elogiado, e agora vocês mudam completamente de formato. Não entendo.

C.N: Pois é, nossos próximos discos serão diferentes. Eu vou continuar fazendo música daquele jeito do primeiro disco do Chambaril, mas aí eu vou usar outro nome.

C: Tu ou a banda?

C.N: Eu sozinho.

C: Ah, você tá falando de outro projeto, neh isso?

C.N: Isso! Tipo, o Chambaril vai mudar de som mesmo, apesar de estarmos tocando o disco o mais fiel possível. As músicas novas de estúdio tão mais marotas e "progressivas"...

C: Só posso dizer que vcs são muito loucos...hahahahahaha.
Por que essa mudança? Era difícil executar ao vivo? Você tem noção de que foram bem falados no disco de estréia, né? Era algo novo e tal.

C.N: Mudamos porque não gostamos do resultado dos poucos shows que fizemos como duo ou trio. Faltava algo impactante. Se fossemos um duo com um telão, com vj, poderia ser mais bacana, mas como é muito difícil essa infra, optamos por humanizar mais a parada.

C: Então o Chambaril nunca mais será o mesmo? vai virar outra coisa?

C.N: Vai ser o mesmo, só que plus.v 2.0. Mas repito: Aquele esquema de samplear vinil e montar um novo contexto, eu vou continuar fazendo, afinal é meio terapeutico pra mim, mas pode ser lançado ou não pelo nome de Chambaril.

C: Você falando assim, parece que o disco eh mais seu do que de Pierre.

C.N: Talvez seja, mas a parcela de Pierre é importantíssima, senão eu continuaria fazendo música no meu quarto no mesmo grau de tosqueira de anos atrás.

C: Tu acha legal a cena eletrônica de Recife?

C.N: Eu conheço pouca coisa daqui,cara. Gosto de dj dolores, re:combo, drogaria & bazar, media sana...queria conhecer o originais do sample. Diversitronica é bacana tambem!

C: Engraçado você falar que gosta de Dolores...todo mundo diz que ele eh dj de preset.

C.N: Bem, ele é um cara legal comigo, e no show dele geralmente eu tô bem na fita...não tenho muito o que reclamar.

C: Como assim bem na fita?

C.N: Bem acompanhado, ou desacompanhado demais. Heheheehehehe.

C: Acho que a cena eletrônica de Recife ainda engatinha.

C.N: É...quem tem os recursos tecnológicos são os boys com seu gosto musical duvidoso.

C: Foi bacana ter lançado pelo selo Coquetel Molotov o disco do Chambaril?

C.N: Sim! Eu nao teria dinheiro pra lançar aquilo. Foi bem divulgado o trabalho. Apesar do atraso da nova tiragem, tá sendo bom trabalhar com eles. Se tudo der certo no começo de Julho tá saindo a nova tiragem do Chambaril com capa nova e duas músicas novas de bônus.

C: O próximo disco de vcs vai sair por lá?

C.N: Não sabemos, mas não tardará a sair.

C: Tu gosta da música que se faz em Recife? Sempre que eu te encontro acho que tu acha tudo uma bosta.

C.N: Qualé China? Não é por aí, não.

C: A minha função aqui é agulhar...hehehehehe.

C.N: Eu gosto de nação zumbi, eddie, mombojó, teu show eu gostei, barbis eu gosto...acho a academia da berlinda a maior diversão! Eu não gosto daquelas bandas que tocam no burburinho...covers de rock velho.

C: Tu acha que um dia a gente vai ganhar dinheiro com música aqui em Recife?

C.N: Rapaz...morando em recife sim, mas não com a grana vinda daqui, sacas? A não ser que você seja aquele cara vaselina que sempre consiga um projeto de lei de incentivo...o que o Chambail ainda não tentou, por sinal.

C: Acho essa lei de incentivo uma bosta. Fica todo mundo esperando por isso e não se movimenta pra outra coisa.

C.N: Pois é. É aquele mesmo esquema de esperar o Abril pro Rock pra sair do gueto...só que em proporções mais burocráticas.

C: Falando em Abril pro Rock...você acha que o Chambaril poderia ter tocado esse ano?

C.N: Não! Podia ser queimação. Tudo tem sua hora, já diria algum pinguço. Ano que vem acho que rola.
Vamo ganhar dinheiro junto, Paulo André!


Site do Coquetel Molotov aqui.

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 19.6.2006.

Rodrigo Édipo

"Meu nome é Rodrigo Édipo, tenho 23 anos, e sou formado em publicidade. Tive algumas experiências no ramo, porém sempre não muito empolgantes. Recebi um convite da equipe do Giro Cultural pra trabalhar com eles no ano passado e estou lá desde agosto. Meu primeiro trampo foi cobrir o festival Coquetel Molotov, onde vi um dos melhores shows da minha vida. o Berg Sans Nippels."

China: Então você é jornalista sem ser jornalista?

R.E: Não sou jornalista. Sou formado emcomunicação social, e vou entrar como portador de diploma em algum momento na minha vida.
Mas não agora, pois me formei em novembro passado.
jornalismo é minha grande historia. Sem dúvidas.

C: Eu acho que o cara não precisa de uma faculdade para ser jornalista.

R.E: É engraçado isso. Eu também não, mas por outro lado é triste ver amigos meus jornalistas, praticamente me perguntando se tem vaga no giro. Acho que as coisas sempre devem ser feitas de uma maneira certa. E acho que o certo é um cara estudar jornalismo, se especializar. Porque não podemos desvalorizar um curso superior nunca, e consequentemente o cara estará preparado. Normalmente mais preparadao do que um cara que fez publicidade. Mas a gente sabe que as coisas aqui no país são meio complexas. Tem muito arrumadinho, cara. E tipo...tem gente muito boa de fora...porque Luciana Gimenez pariu lucas!

C: hahahahahahahaa

R.E: É foda! Porra se tudo fosse certinho podiam dizer, "beleza...não é necessário diploma pra trabalhar em jornalismo (hoje em dia precisa), porque fatalmente um cara que estudou jornalismo tá há anos-luz de uma pessoa que estudou economia".
Mas as coisas são complexas.

C: Tu confia no que escrevem em websites?

R.E: Não confio no que falam na globo. Não confio nem mais no meu pai fala, mas acho que temos que dar crédito sim, porque sabemos que o mercado tem pouco espaço pra todo mundo, então pode sim ter muita gente boa e competente escrevendo em um site empoeirado pelas estantes da web.

C: Os jornais impressos são mais confiáveis?

R.E: Eu leio e filtro.
Não necessariamente. Tenho o memo cuidado, cara. São informações broadcasts como grandes jornais. Merecem sim serem questionadas. Ô se merecem!
A gente sabe que a realidade não tá estampada no caderno C. E sim uma realidade escolhida. Não temos livre arbítrio de porra nenhuma. A realidade e liberdade da gente é pre-estabelecida e pronto.

C: Acho bacana essa coisa da internet. Todo mundo pensa e escreve o que quiser. Tem o mesmo espaço lá, é bastante democrático, mas é um lance perigoso. A palavra é muito perigosa. O cara tem que tá esperto no que escreve. E quem escreve em blogs, por exmplo, escreve o que quer, pois não tem um chefe para detoná-lo.

R.E: Mas esse lance de não ter chefe é bom. Curto anarquia, a auto organização.

C: Eu posso escrever que voce é gay por exemplo, e todo mundo que entrar na minha comunidade vai ler e achar isso, saca? É perigoso.

R.E: Sim, mas uma verdade dita dessa forma não se sustenta por si só. É um conjunto de fatores.
se tu diz que eu sou gay e eu no dia a dia não demonstro isso...tchau tchau pra tua afirmação, entende?
precisa de que? Conteúdo, fontes confiáveis.

C: Ou não! E se o cara for um leitor de SP, por exemplo? Ele vai demorar pra descobrir que tu não é gay.

R.E: As pessoas não são tão estupidas. Elas tem outro acesso a respeito de você. Não só em um lugar, entende? Internet tá aí pra isso.

C: Usei esse exemplo para falar de outra parada...

R.E: Ah bem. Pensei que tu tava me acusando.
hehehe.
Quem ler isso aqui, pode ir no meu orkut, tem lá: Heterossexual. Busquem outras fontes.

C: Tem um site, o recife rock (www.reciferock.com.br), que sempre escreve críticas detonando show do Bonsucesso, Eddie, eu mesmo, e a maior galera que eles não tem afinidades musicais. Esse site é referência no Rio e em SP porque as pessoas procuram sobre a música pernambucana lá. um cara de SP me perguntou se Rogerio do bonsucesso era desafinado mesmo. Outra pessoa que conhece mais da cena falou o seguinte: Esses caras só falam sobre o que gostam e metem o pau no resto. Isso é ruim, porque um lance que poderia ser refêrencia para uma galera, acaba se fechando num gueto.
A mesma coisa é DJ Dolores falando mal das bandas daqui. Ele é respeitado no mundo, devia levantar a bola da cidade.

R.E: Mas veja só. Você tem que acreditar também nas pessoas que tão lendo aquilo. Na capacidade intelectual de cada um. Personalidade
principalmente quando se fala em cultura. Tem nenhum zé mané lendo isso não. E esse lance de Dolores é triste pra caralho sim. Ele é um líder de opinião maior que Hugo Montarroyos(recife rock), aí preocupa.
E pô, deixa o cara achar que o pessoal é desafinado. Ele escreve o que quer. A turma vai se ligar caso ele queira se promover ou coisa parecida (que acho que não é o caso).
Agora acho muito que a síndrome "Diogo Mainardi" tem permeado nos jornalistas sim.

C: É verdade...ahahahahahaha.

R.E: Todo mundo quer falar o que pensa, mas esquece de pensar.

C: Boa essa.

R.E: Saca? A estrela é o artista, sempre boto isso na cabeça quando escrevo. E o pessoal do giro é bem relax quanto a isso. Lá o clima é leve, saca?

C: Eu noto que o giro cultural é um site que fica sempre em cima do muro.

R.E: Ué! De forma alguma. As opiniões são dadas. Tu que tais mal acostumado com as opiniões "bombásticas" dos outros.

C: Vai ver que é isso. Mas falo o lance de ficar em cima do muro, por não entrar em nenhuma polêmica. Tá sempre ali, informando sem querer polemizar.

R.E: Acho o nosso site mais opinativo que o recife rock.

C: Como assim?

R.E: O recife rock tem um propósito mais de ser uma grande assessoria de imprensa pras bandas, e eles fazem isso muito bem. É louvável o trabalho deles. Mas nós temos colunistas que só a porra. E coluna é opinião. Então toda semana tem neguinho dando opinião lá, é só checar. Bruno Nogueira e Wilfred Gadelha são meus prediletos.

C: Dá pra ganhar dinheiro com web site? Não conheço ninguém que ganhe dinheiro com isso.

R.E: Noso site é mantido pela secretaria de educação e cultura. Nós temos sim um salário no fim do mês. Mas assim, com web não dá pra ganhar grana não. Só agora de uns tempos pra cá é que o lance tem fervido.
é coquetel molotov (www.coquetelmolotov.com.br), recife rock, nós, o cicuito pe(www.circuitope.com.br) de Leo, mas tudo é um embrião, cara. Um dia isso pode ser grande. Estamos numa fase de semear. Quem vai colher são os pirralhos de hoje em dia no futuro.
O lance é que ninguém acredita em propaganda na internet, aí faltam patrocínios. Espero a cada dia que surjam mais sites com um porpósito próximo aos supracitados, porque assim aquece a concorrência.
Isso é saudável pra caralho.

C: E a revista do giro cultural? Como se deu esse esquema?

R.E: Bicho, a revista é um projeto antigo. Antes até deu baixar por lá, mas foi meio que engavetado porque quem bate o martelo não é a gente. Então esse ano tentou-se mais uma vez, a proposta foi re-feita até que a secretaria aceitou. É uma revista que a gente busca expandir um pouco mais o conteúdo do site, que é muito preso a cultura local.

C: Eu gostei da revista, mas achei o número 1 um pouco bobinha, assim como as outras.

R.E: É a primeira cara, sempre é meio nas coxas. Eu na verdade curto muita coisa dali, mas plasticamente pecou pelo simples fato da gráfica ter fuleirado conosco. A impressão ficou horrível. Aquela na verdade é uma edição experimental. Essa que chega agora em março é a número 1. Aí tu vai ver como a coisa mudou. Revista outracoisa. Hehehehe.

C: Aquela matéria dos indies x originais olinda style é ridícula. Hahahahahaha. Já disse isso pro Bruno.

R.E: Ridícula em qual sentido?

C: É uma coisa que não precisa.

R.E: Você acha que a gente fez aquilo para reafirmar isso? Não foi não.

C: Reafirmar não, porque isso não existia com tanta intensidade. Achei besta. Poderia usar aquela página para algo mais legal.

R.E: E divisão na cabeça das pessoas tem existido sim. Aquela matéria foi massa. Foi de bom humor.

C: Bom,acho que não precisava.

R.E: Opinião de consumidor.

C: Exato!

R.E: Me sinto lisonjeado por você ler a nossa revista, porque assisto muito seu programa.

C: Acho legal essa iniciativa. É aquela coisa: Quanto mais circular informações das bandas daqui, melhor pra todo mundo

R.E: O lance é união cara, né?

C: Claro! Penso muito assim.
Você acha que Recife é a terra da inveja?

R.E: Acho que o mundo tem muito disso, cara. Não posso dizer que Recife tem essa particularidade. É foda, deixei a publicidade porque sentia muito isso no meio, mas depois percebi que tem em todo canto.
A parada é a gente meio que fazer vista grossa a essas bad vibes. Que acontece acontece, mas esse espaço aqui da tua comunidade é uma boa oportunidade pra se louvar outros temas. Talvez temas que façam agente esquecer tudo isso.
Apertar sempre na mesma tecla é trash metal! Vamos seguir em frente cara. Tu não acha?

C: Acho sim. As panelas existem, então seja o tempero delas. Entre em todas.

R.E: Exato.
Velho, a merda é a merma. Vamos ser as melhores moscas. Hahahahahahaahahaha.

C: Acho que é isso. Mas algumas coisa?

R.E: Só agradecer o espaço mesmo, cara. E pense sempre em contemplar temas agradáveis, mas sem cair na alienação.


Site do Giro Cultural aqui.

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 24.3.2006.