quinta-feira, 20 de julho de 2006

Felipe Machado

O pernambucano Felipe Machado, 28, é um dos responsáveis pelo programa do governo federal de pontos de cultura. Viaja o país organizando pontos de cultura em lugares que até então nem sonhavam em ter computador. Usando sempre como base a tecnologia dos softwares livres.
Além disso ele é DJ, produtor, e por que não, músico também (apesar de não tocar nenhum instrumento).
Se ligue aí nas opiniões pertinentes de Felipe Machado.

C: O que exatamente são os pontos de cultura?

F.M: O Ponto de Cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva e articula todas as suas demais ações. Ele é a referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas e vontades criadoras. Uma pequena marca, um sinal, um ponto sem gradação hierárquica, um ponto de apoio, uma alavanca para um novo processo social e cultural. Como um mediador na relação entre Estado e sociedade, e dentro da rede, o ponto de cultura agrega agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades, e destas entre si.
Em resumo: é isso

C: Se lula não for reeleito esse esquema pode acabar?

F.M: A idéia é exatamente essa. Que nunca acabe. O que pode acabar é a "marca" pontos de cultura, mas as ações e doações não. Com a doação de equipamentos multimídia para os pontos, estamos dando poder para que eles desenvolvam suas ações com qualidade, com a utilização de Software Livre estamos fazendo com que eles entrem para uma rede que tem vida própria, que independe de governos ou organizações, formando a rede dos Pontos estamos incentivando a produção colaborativa e enraizando o processo coletivo para uma possível independência.
O lance é hackear o Governo. O Gil fala isso, que tem alma de hacker.

C: ele fala isso?

F.M: Gil? Sempre. Que sua alma é hacker.

C: Então se hackearmos o governo teremos o aval de Gilberto Gil?

F.M: Mas ESTAMOS hackeando o Governo. E é isso que o Governo quer.

C: porque? Sai mais barato?

F.M: Como assim?

C: Sai mais barato para o governo isso? software livre, um trabalho terceirizado...

F.M: Claro. Porque pagar por licenças se existe tudo livre? Somos um país pobre, quanto menos se gastar com supérfluos melhor. Poderíamos voltar a grana pra outras coisas. Imagina...todo ponto de cultura terá um kit multimídia certo?
PC, placa de som, câmera...tudo que se precisa para trabalhar com multimídia custa 20 mil.
Se fossemos comprar licenças pra softwares ia pra uns 80 a 100 mil. É foda...umas 4x o valor.

C: então porque o governo brasileiro barrou a licença para os softwares livres?

F.M: Não barrou nada. Ao contrário, este governo é o que mais apóia.
O Lula é um Deus no mundo do Software Livre.
kkkkkkkkkkkkkkkk

C: Mas eu soube de uma historia que a microsoft deu em cima, e o governo recuou na liberação de software livre.

F.M: Algumas coisas são foda. A câmara dos deputados barrou. Você imagina por que?

C: com certeza por terem o rabo preso

F.M: No início do ano houve um trem da alegria, pago pela Microsoft, rumo a Seatle, sede da Microsoft. Vários dos deputados, quando perguntados o porque da viagem, já que nunca tinham tido nenhuma relação com Informática, diziam que "se nunca tive interesse, a hora é essa..." O lobby é muito grande.

C: É verdade...

F.M: Imagina uma coisa... Software Livre não tem sede, Não tem presidente... É uma comunidade. Somos fortes como pessoas que tem uma ideologia, não como empresa. E mesmo assim, sustentamos nossas famílias.

C: tem muita gente que tá se aproveitando para ganhar dinheiro ilícito dessa historia de ponto de cultura?

F.M: Cara...se tem gente se aproveitando deve ser como em tudo no mundo. Esperar que só tenha gente boa é ingenuidade.

C: Tu também é DJ, produtor, e até músico...tu acha que a cena eletrônica em recife é legal? Temos bons DJ’s aqui?

F.M: DJ's bons nós temos, cena eletrônica é outra coisa. Não existe cena eletrônica, existe TRANCE (argh!). Tipo...em Brasília existe uma noite de IDM. Aqui se eu tocar IDM levo uma garrafada. kkkkkkkkk

C: o que é IDM?

F.M: Inteligent Dance Music...Aphex Twin....

C: podes crer. Que nome pomposo da porra..

F.M: Normal. Só nome. O som é difícil e quase “indançável”, mas tipo, não existe House bom, noites de Ragga, DUB. Temos um lance que às vezes é até melhor, e que o povo de fora pira. Tocamos tudo na mesma noite!
Mas é foda. Imagina que não existe uma casa pra DJ tocar...com ar condicionado...vídeos...Onde VJS tocam em recife ?
você entende ?

C: esse lugar não existe...

F.M: É tudo gueto.

C: Você não acha que os DJ’s de Recife sempre pegam o bagaço do que foi lançado no sul? Tipo, a onda drum n bass...só chegou aqui depois, e o que chegou foi o bagaço.

F.M: Não acho. Sempre rolou drum n'bass, mas quando tocávamos num era tão cool. lembro que Renato L sempre tocou uns jungles....
É que quando fica POP é que dá na cara.

C: Dá pra fazer uma lista de DJ’s daqui de Recife que você não iria ver nem como convidado?

F.M: hahahaahahahaha

C: se não quiser responder, tudo bem...

F.M: Quero é me lembrar dos nomes...kkkkkkkkkkkkkk.

C: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

F.M: Qualquer um que toque trance, ahhhh...nem lembro, mas tem. Só num lembro.

C: porque tu acha que existe essa cultura trance? O que tem demais nesse som?

F.M: Tem de menos...é um lixo. Eu até que respeitava o trance....mas hoje em dia tá demais...
Só tem uma coisa que o trance fez que pode até ser legal. É quando abre espaço pra outros estilos em suas festas...e só!
Prefiro o brega.

C: Eu também.
Foi difícil trabalhar no disco de silvério? tu pôde experimentar, ou foi tudo do jeito que ele queria?

F.M: Foi massa. Acho que se eu experimentasse mais num ia ser o disco dele.
Vale lembrar que silvério foi o cara que acreditou em mim, chamou um produtor que nem sabia o que era produzir. Foi foda!!!

C: é...isso é um lance bacana nele. Sempre tá querendo gente nova por perto.

F.M: (que entrevista do caralho!!! alto nível!! PQpariu)
Ele tem Yuri (Queiroga, guitarrista) agora.

C: o originais do sample * vai ser uma banda virtual?
Nunca tocam, porra...

F.M: Não. Vai ser uma banda lendária!!! O originais é um termômetro da minha vida pessoal...se tenho tempo tudo anda, se não, fudeu.

C: tem link pra galera baixar o que foi gravado?

F.M: Não tem link e não vai ter enquanto eu não conseguir mixar tudo.

C: achei que já tava pronto.

F:M: Não tá. Tenho que mixar muita coisa.

C: Por falar em link...tu apóia esse lance de mp3? liberação de música na net...

F.M: Claro!!! Porque não?
B.negão é a prova nacional que rola...

C: O Mombojó também...Mas e o autor das músicas...onde ele ganha com isso?

F.M: Qual é a idéia? Né fazer com que sua música chegue o mais longe possível, para que possa vender shows? Artista só ganha grana com show, quem ganha grana com disco é gravadora...ou não? Faz as contas. Agora se o papo for liberar tudo ou não, acho que fica a cargo de cada um. Se você tiver afim libere seus direitos, mas caso contrário você não vai estar sendo escroto ou qualquer outra coisa. Odeio os xiitas, tanto da cultura livre quanto da proprietária. Liberdade é direito de escolha.

C: Bela frase...Mas essa coisa de liberação de música via internet ainda é um terreno difícil de pisar, tu não acha?

F:M: Acho não. Acho o contrário...é vacilo se fechar...

C: acho que já deu...alguma coisa que tu queria acrescentar?

F.M: Beijo e boa noite.
Fui.


* Projeto autoral formado por, Chiquinho (Mombojó), Hugo Gila (Variant TL, Kaia na Real, China), Marcelo Machado (Mombojó), Thiago Andrade (Zé Cafofinho, Variant TL). Tem 8 músicas gravadas, e segundo Felipe Machado, em fase de acabamento.

Site do Estúdio Livre aqui.

Fonte: Comunidade Que conversa é essa?! do China em 19.2.2006.